LISBOA. Por que os portugueses têm
sempre os mesmos nomes? Antônio, João, Joaquim, José, Manuel, Isabel,
Madalena, Nuno, Vasco, há poucas variações. O motivo não é falta de
imaginação. Ao contrário: eles bem que tentam, mas são barrados nas portas
dos cartórios do país.
No momento de registrar um filho,
qualquer português é obrigado a se confrontar com uma lista de 1.938 nomes
próprios terminantemente proibidos por lei. E o que é pior: atualizada
periodicamente, essa lista só vem crescendo nos últimos anos.
Há dois anos o pedreiro Joaquim Santos
passou a ter um Diogo Maria na família, mas a contragosto. Louco por
automobilismo, ele queria batizar o primeiro filho de Ayrton, em homenagem ao
piloto brasileiro Ayrton Senna. O cartório negou, mostrando a lista negra.
Joaquim então insistiu: Fitippaldi, pediu ele. De jeito nenhum, devolveu o
escrivão.
O contato com o Brasil e,
principalmente, a enxurrada de novelas brasileiras que se alternam nas telas
das TVs portuguesas tornaram ainda mais comuns os pedidos de registros de
nomes diferentes daqueles que os portugueses foram obrigados a aceitar nos últimos
séculos. Joaquim e Manoel, por exemplo, constam da lista de nomes admitidos.
Mas quando o cidadão entra no cartório e pede o registro de um nome que não
está em nenhuma das duas listas é uma confusão.
O cartório despacha o pedido para o
funil da burocracia que depende ainda da última palavra de um consultor onomástico
(de nomes próprios). Geralmente o solicitante recebe um sonoro não como
resposta.
Há quem tenha conseguido furar o
bloqueio. Mas ainda assim, vivem fora da lei. O mais conhecido cineasta
português, Manoel de Oliveira, nascido há 88 anos no Norte do país, não
conseguiria ter esse nome hoje nos cartórios de Lisboa. O nome só é
autorizado se tiver grafia igual à do rei Manuel.
A ministra da Saúde, Maria de Belém,
é outra contraventora. Belém, um dos símbolos da capital, não é admitido
sob hipótese alguma, como nome ou sobrenome.
O pai de Miguel Ângelo, vocalista do
Delfins - grupo de rock mais popular no país - foi obrigado a aportuguesar e
quebrar ao meio sua pretensão: Michelangelo, como ele queria, nem pensar.
Mesmo assim os portugueses continuam
tentando ousar na hora de dar nomes a seus filhos. E as novelas são uma boa
arma. Ao longo da transmissão de "Explode Coração" - produção
da TV Globo que terminou de ser exibida em Portugal em setembro do ano passado
- centenas de famílias quiseram batizar seus filhos com os nomes dos
personagens Dara e Igor. Diante da chuva de pedidos, a Direção-Geral dos
Registros e Notariado do Ministério da Justiça foi forçada a ceder, mas só
permitiu o uso de Dara como segundo nome próprio.
Antes, admitira também Gabriela e Gabi,
copiados da primeira novela brasileira reprisada em Portugal: "Gabriela,
Cravo e Canela"; e Betina e Paloma, personagens da novela "Corpo e
alma", ambas da TV Globo. A Luana de "O Rei do Gado" acabou de
ser autorizada. Mas outros estrangeirismos como Alessandra, Carmencita,
Coltrane, Elisângela, Karina, Tarciso e Tatiane foram riscados do mapa. O
brasileiríssimo Teresinha de Jesus, por exemplo, é considerado uma total
heresia.
- Recentemente admitimos Vanessa. Tem
muitas no Brasil, não? Mas as listas obedecem ao Código do Registro Civil -
disse o diretor dos Registros e Notariado, Joaquim Seabra Lopes.