|
|
![]() ![]() |
|
||||||||||||||||
![]() |
![]()
|
||||||||||||||||
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
||||||||||||||
Maria
Cristina Mattar tem 52 anos. Foi casada durante treze anos, teve
quatro filhos e vive sozinha há vinte. É viúva.
Neste período, namorou bastante, mas nunca se casou. Com
um de seus namorados, teve uma experiência marcante. Certa
vez seu filho mais velho adoeceu e foi hospitalizado. Quando Maria
Cristina estava na cabeceira da cama do menino, o telefone tocou.
"Se precisar de mim, estou na sauna do clube", disse o namorado.
"A nossa relação acabou naquele momento", conta ela.
"Não quero ficar sozinha, mas não é esse tipo
de homem que eu procuro. Quero alguém que esteja sempre disposto
a me dar apoio na hora difícil. Já estou achando que
esse homem não existe". Maria Cristina é independente
economicamente, bonita, bem-humorada e tem interesses diversificados.
Já viajou bastante, gosta de cinema, teatro, show musical.
Conhece muita gente. No entanto, continua só.
A mulherada está fazendo e acontecendo, e os homens não estão acompanhando o andar dessa carruagem. A Young & Rubicam, uma empresa de publicidade americana, detectou esse fenômeno e resolveu fazer uma pesquisa para descobrir, afinal, que público novo é este que está surgindo e que as empresas não estão sabendo atender: o das mulheres sozinhas. A pesquisa descobriu que essa categoria de gente vem crescendo no mundo inteiro. Suas características são as seguintes:
Estas
são histórias de países ricos. E os dados são
mesmo espantosos. No Brasil, há mais mulheres chefiando famílias
que nos Estados Unidos. Mas elas estão concentradas nas camadas
mais pobres da população. Nota-se, ultimamente, no
entanto, alguma transformação no universo feminino.
A renda das mulheres economicamente ativas anda crescendo. Até
o início dos anos 90, elas eram responsáveis por cerca
de um terço do orçamento de suas famílias.
Hoje arcam com 56% e, segundo apurou o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), no ano passado, encaram o trabalho
como um de seus principais objetivos de vida. Entre as engenheiras
brasileiras, 55% vivem sozinhas ou são solteiras,
ou separadas ou viúvas. Uma pesquisa do Crea, o conselho
que reúne os profissionais do ramo, fez essa descoberta em
1997. A coordenadora do estudo, Célia Balário, arquiteta
separada há 22 anos, tem uma explicação para
o fenômeno. "No Brasil, os homens ainda são muito machistas.
É difícil para eles conviver com uma boa profissional."
Hoje, aos 54 anos de idade, Célia diz que, diante da perspectiva
de casar e ter de cuidar de mais um homem, além de seus dois
filhos, nunca pensou em procurar um novo companheiro.
Em setembro do ano passado, o Datafolha fez uma enquete em todo o Brasil com 2.038 pessoas. Descobriu que a maioria dos entrevistados considerava a família uma instituição importante, mas apenas 31% valorizavam o casamento. Para preservar a liberdade, evitar sofrimento ou por considerar já ter passado da idade, 37% das mulheres solteiras, separadas ou viúvas afirmaram não ter intenção de casar. Entre os homens, o índice de solteiros que pretendiam permanecer sozinhos era a metade do feminino. As mulheres, portanto, estão mais exigentes também no Brasil. Quem
não se lembra daquela juíza que enfrentou a máfia
dos bicheiros cariocas e colocou os chefões do jogo atrás
das grades? Pois é, Denise Frossard, a juíza, hoje
está aposentada da magistratura. Trabalha como advogada.
Mora no Leblon, um dos bairros mais caros do Rio de Janeiro, tem
uma BMW compact, é divertida e gosta de passear de bicicleta
pela praia e nas montanhas. Tem 47 anos de idade e é solteiríssima.
Namora de vez em quando, mas nada muito sério. De família
rica e órfã de mãe desde os 13 anos, sempre
teve vida independente. Parece que ela não casa porque não
quer, não é? Não. "Não sou contra o
casamento, mas contra o contrato que torna a mulher dependente do
homem. Dividiria uma casa com alguém desde que ela fosse
grande. Acho que é possível encontrar um homem que
tenha os mesmos interesses e necessidades que eu. Se rolar eu caso",
diz.
"A sobrevivência do casamento está cada vez mais difícil porque a mulher quer recriar o homem", diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, supervisor da equipe de psicoterapia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. "Ninguém mais quer ceder nada." A paulista Valéria Cirello, publicitária diretora da Lowe Lintas, tem 36 anos. Ficou casada durante sete anos com um homem obsessivamente organizado cujos gostos não tinham nada a ver com os dela. Teve um filho e cansou de ceder aos caprichos do marido. Separou-se há três anos. Sua primeira providência como mulher livre foi comprar uma Mercedes Classe A. "Foi meu grito de independência. Ele jamais permitiria que eu comprasse este carro", diz. Depois, adquiriu um colchão de dois andares, ao estilo americano, muitas plantas, que o ex-marido odiava, objetos de decoração e um cãozinho, outro item que seu companheiro não suportava. Melhorou o plano de saúde do filho e está contratando um plano de previdência privada para o menino. Não
é à toa que o consultor americano Tom Peters, em seu
livro The Circle of Innovation, diz que as mulheres são
hoje a oportunidade número 1 para quem vende plano de saúde,
serviços financeiros, carros, produtos de telecomunicação
e qualquer outra coisa em que se possa pensar. Aquele clichê
segundo o qual mulher só gosta de comprar roupas, sapatos,
flores e comidinhas está mais do que ultrapassado. Mulher
gosta de tudo isso e muito mais. A economista Juliana Puga, de 24
anos, trabalha com marketing na BCP, operadora de telefonia celular
em São Paulo. A esta altura da vida, já tem um currículo
respeitável. Estudou e trabalhou nos Estados Unidos. É
compradora voraz de equipamentos tecnológicos de todo o tipo.
De laptop a celular. "Não me vejo casando com alguém
que dê palpites sobre o CD que quero comprar", diz. Esta é
uma linha de consumo que as mulheres estão abraçando,
a de produtos tecnológicos. A outra diz respeito a itens
radicais. Mulheres, no Brasil, são maioria entre os freqüentadores
dos albergues, hospedagem para quem curte viagens alternativas.
Mariana Holitz, artista plástica que vive em São Paulo,
tem 35 anos e é solteira. Sua diversão? Participar
de rallies, praticar rafting e rapel. "Casar não é
fundamental. Amar é fundamental." Parece uma mulher diferente,
mas, pasmem, ela é louquinha por sapatos. Tem uma coleção
de cinqüenta pares em seu armário.
Em países desenvolvidos, o poder de compra da mulher que é dona de seu nariz já vem sendo explorado. Na Inglaterra, no mês passado, foi lançada a revista Your Car, especializada em automobilismo e voltada especialmente para o público feminino. Considerando que, em 1995, 238 milhões de mulheres viajaram sozinhas para fora de seus países, um hotel em Bangcoc, o Amari Airport, separou um andar inteiro só para elas. Há um site na internet, o Expedia.com, que tem uma página contendo 1.000 dicas de viagem para as solitárias. Explica desde os truques para esconder dinheiro no sutiã até maneiras de escapar do assédio de homens na rua. No Brasil as mulheres ainda não têm bares e restaurantes exclusivos. Também sofrem um pouco quando têm de ir a uma borracharia. Todas as entrevistadas por VEJA reclamam da falta de serviços voltados para as mulheres. Mas estão surgindo novidades interessantes. Já há cursos de mecânica de automóvel para elas. Depois de fazer uma pesquisa entre seus clientes, a Fiat descobriu que as mulheres são as maiores compradoras dos carros de sua marca. Então, nos últimos anos, incluiu um espelhinho no pára-sol do motorista. Um detalhe baratinho que tem agradado muito à freguesia. Existe, no Rio de Janeiro, um serviço de aluguel de marido. Isso mesmo. As mulheres que precisam fazer um pequeno conserto em casa, coisa que um marido dedicado resolveria, podem encomendar um rapagão para quebrar o galho. Outros sites oferecem dicas de jardinagem, moda, boas compras e investimentos. O Mulherinvest recomenda que suas visitantes planejem um dia estar sozinhas, mesmo que sejam casadas. Os argumentos: a cada dois casamentos, um acaba em divórcio; atualmente, a maioria dos casos envolve casais que foram casados por um longo período; e, finalmente, após o divórcio a maior parte dos homens tem seu padrão de vida elevado, enquanto o das mulheres cai. É isso aí, minha gente. Está na hora de os empresários brasileiros caírem em si e olharem, com mais carinho e cuidado, o sexo feminino. Está na hora, também, de os homens perceberem que o mulherio já não compete mais com eles. Elas estão empatadas. Portanto, é tempo de relaxar e aproveitar a companhia.
|
Copyright
2000 Editora Abril S.A. |
VEJA
on-line | Veja
São Paulo | Veja
Rio | Veja
Recife | Guias
Regionais Edições Especiais | Site Olímpico | Especiais on-line Arquivos | Downloads | Próxima VEJA | Fale conosco |